A Ana nasceu arquitecta.
Mestre pela Universidade de Coimbra e pela Università degli Studi Roma Tre e doutoranda pela Faculdade de Arquitectura Universidade Porto, está à frente do Curo Architecture Atelier, em Águeda. Cliente do Estúdio Letras desde 2023, Ana diz que o arquitecto é um criador e a obra nasce a partir do primeiro pensamento.
Ela é a primeira convidada do Estúdio Letras EntreVista para abrir esta construção com chave de ouro.
- Como e quando descobriste que a arquitetura era o teu caminho?
A primeira vez que considerei a arquitetura como caminho foi aos 15 anos, quando o meu irmão me ofereceu um livro sobre Álvaro Siza Vieira. Aquilo despertou algo em mim — uma curiosidade serena, mas profunda. Já gostava de desenhar, de observar espaços, de pensar em formas e cores, mas ali percebi que podia transformar esse instinto numa profissão/estilo de vida. Estudar em Coimbra, passar por Roma e agora estar na FAUP como doutoranda só veio confirmar essa escolha. A arquitetura, para mim, é um modo de ver e estar no mundo.
- Que valores te guiam no teu trabalho hoje?
Cuidado, responsabilidade e empatia. Acredito que a arquitetura deve servir as pessoas, não afastá-las. No CURO partimos do princípio de que a arquitetura é um direito, não um luxo. Valorizamos o impacto social dos projetos, a escuta ativa e o compromisso com a verdade de cada espaço e de quem o habita.
- Ana, como nasce um projeto?
Nasce sempre de uma escuta. Antes do traço, há uma história, uma intenção, uma expectativa. O projeto começa com uma relação — com o cliente, com o lugar, com o tempo. Só depois vem o desenho. O papel do arquiteto, para mim, é o de interpretar e traduzir essas histórias em espaços que façam sentido, que acolham, que tenham alma.
- O que nunca pode faltar numa boa ideia?
Coerência e intenção. Uma boa ideia tem que responder a uma necessidade real e ter a coragem de ser simples. Não precisa de ser complexa para ser boa, precisa de fazer sentido, de ter um propósito claro.
- Tens rituais criativos ou hábitos que alimentam a tua inspiração?
Sim, tenho pequenos rituais que me ajudam a recentrar: caminhar na natureza, brincar com o meu cão, ler, observar as rotinas e os gestos das pessoas, são pequenos exemplos. Adoro colecionar objetos de design, adoro sentir-me rodeada de peças com um pensamento criativo associado.
Gosto de começar o dia com silêncio e um bom café, prestando atenção ao que me rodeia. Esses momentos simples ajudam-me a estar mais presente e a conectar-me com o processo criativo de forma mais clara e intuitiva.
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- Como descreverias a tua estética em três palavras?
Serena, sensível, expressiva.
A minha prática tem uma base tranquila e atenta, mas há sempre espaço para o impacto da cor e da forma. Gosto desse equilíbrio entre contenção e ousadia — onde a delicadeza pode conviver com momentos mais intensos, desde que faça sentido no contexto.
- Onde mais (fora da arquitetura) vais buscar referências?
Na literatura, nas viagens, nos museus. Entre os meus livros preferidos estão A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, e As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino — obras que exploram, cada uma à sua maneira, a relação entre identidade, memória e espaço, temas que também procuro refletir nos meus projetos.
Viajar é outra forma de escuta: observo como as pessoas vivem, como os lugares respiram. Também encontro muita inspiração nas artes visuais, na música, no cinema e, sobretudo, na natureza — nos seus ciclos, na forma como a luz se transforma, nos materiais no seu estado mais puro. É nesse cruzamento entre o sensível e o vivido que as ideias ganham forma.
- O que te levou a procurar uma agência de comunicação para o Curo Architecture Atelier?
O CURO já tinha uma identidade clara, mas precisava de ser comunicada com mais consistência e propósito. Procurar uma agência foi um passo natural para dar voz ao que já existia. Era importante mostrar o que nos move, com autenticidade e clareza.
- Como foi – e é – o processo criativo com a Estúdio Letras?
Foi, e continua a ser, uma colaboração muito bonita. O Estúdio Letras conseguiu captar a essência do CURO com muita sensibilidade. O processo tem sido de escuta mútua, de afinação, de construção conjunta. Trouxeram palavras e imagens para aquilo que até então era apenas sentido. Hoje, essa relação continua a evoluir, com base numa visão partilhada e objetivos delineados.
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