Nos últimos 20 anos, nós (millennials) presenciamos uma das maiores viradas culturais do nosso tempo: o entretenimento deixou de ser um território exclusivo da televisão para se tornar uma constelação descentralizada de criadores, nichos e vozes diversas. E adivinha? O YouTube foi um dos grandes protagonistas dessa revolução.
Um levantamento recente divulgado pelo Google (em comemoração aos 20 anos do Youtube) e divulgado na Meio & Mensagem, revelou que o YouTube contribuiu com impressionantes R$ 4,94 bilhões para o PIB brasileiro apenas em 2024. E esse não é só um número robusto, esse dado sinaliza algo maior: o YouTube se consolidou como motor econômico, espaço de expressão criativa e pilar da nova cultura digital brasileira (e do mundo).
A TV perdeu o monopólio
Durante décadas, o entretenimento era linear. Tínhamos hora para assistir ao programa, intervalo comercial programado e pouca margem para personalização. A TV aberta reinava absoluta, determinando o que era “conteúdo de massa”. Mas as coisas mudaram e as novas gerações nem sabem o que é ter que esperar para ver o próximo capítulo da novela ou o que significava a música do plantão da Globo, que interrompia a programação de forma brusca sempre que algo urgente acontecia.
Hoje, uma geração inteira cresceu clicando em thumbnails ao invés de zapear canais. O que antes era passivo se tornou interativo. O que era produção de alto custo agora pode nascer num quarto com uma câmera e uma boa ideia. E cá entre nós, muitos criadores de conteúdos nem se preocupam com a qualidade ou com a parte da boa ideia.
O YouTube, nesse contexto, redesenhou a ideia de audiência. Ser um creator se tornou profissão, com direito à influência, escala e faturamento comparáveis (ou superiores) aos das grandes estrelas da velha mídia. E, diferente da televisão, o YouTube deu palco a vozes que antes não cabiam nos moldes tradicionais: periféricos, autodidatas, especialistas de nicho, humoristas experimentais, educadores independentes.
A revolução é geracional, mas não só
Muito se fala sobre a Geração Z e seu relacionamento fluido com plataformas digitais. Mas a realidade é que a transformação do consumo de conteúdo atravessa idades. A plataforma, segundo o próprio Google, tem mais de 120 milhões de usuários mensais no Brasil, de diferentes faixas etárias.
Consumimos vídeos para aprender, relaxar, trabalhar, rir e até meditar. Em vez de esperar o horário do programa, buscamos exatamente o que queremos, no momento em que queremos, sob medida para nosso interesse. Isso é comportamento de consumo moldado por abundância e autonomia.
Creators como catalisadores culturais
Em vez de astros distantes, temos criadores que falam como a gente, vivem como a gente e constroem comunidades reais ao redor de suas narrativas. Eles são, hoje, peças centrais de campanhas publicitárias, influenciam hábitos, provocam debates, formam opinião. Mais do que entretenimento, criam cultura.
A economia criativa, que por tanto tempo foi subestimada, começa a mostrar seu impacto real e financeiro. Os quase R$ 5 bilhões injetados no PIB são prova disso. Mas talvez mais importante do que o dinheiro seja o fato de que esses criadores representam um novo modelo de protagonismo, onde produção, distribuição e impacto estão ao alcance de qualquer pessoa e não apenas de poucos privilegiados.
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O futuro (ainda) está em construção
O YouTube não é o fim da linha, e outras plataformas também disputam atenção e relevância. Mas é impossível ignorar o papel que ele teve na reconfiguração do audiovisual no Brasil. Não estamos apenas consumindo de outro jeito. Estamos contando histórias de outro jeito, ouvindo vozes novas, questionando modelos antigos.
E se antes o sonho era “ter um programa na TV”, hoje ele pode ser “ter um canal no YouTube”. Em termos de impacto, liberdade criativa e alcance, pode ser até mais poderoso.
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