Recentemente, vimos o rebranding da Jaguar promovendo a campanha “Copy Nothing” , e o burburinho nas redes sociais não passou despercebido. As respostas variaram entre indignação e piadas sem filtro – uma mistura de confusão e crítica que parece ser padrão sempre que uma marca icônica decide dar uma sacudida e mudar o rumo. Mas será que estamos prontos para lidar com as mudanças radicais? Ou será que a ousadia das marcas esbarra nas nossas próprias contradições?
O post de hoje é uma análise sobre alguns pontos que dizem mais sobre o comportamento do consumidor e de nós, profissionais do marketing, do que da própria Jaguar. Vem refletir com a gente!
Queremos mudança, mas só um pouquinho
Somos os primeiros a pregar que as marcas precisam ser ousadas. Vivemos em tempos de apelos por inovação e quebra de paradigmas. No entanto, quando uma marca como Jaguar se desprende de sua imagem clássica – que evoca luxo, masculinidade e performance – o resultado imediato é o choque, a criação de memes e chacota.
Esse paradoxo nos coloca diante da difícil verdade: talvez ainda não saibamos lidar com a verdadeira ousadia das marcas. Queremos inovação, mas dentro dos limites do que nos conforta.
Fragilidade à vista!
O rebranding da Jaguar também expõe outro ponto interessante: a fragilidade da masculinidade. Algumas sátiras chegaram ao ponto de sugerir que os novos modelos da marca virão com acessórios pouco tradicionais, insinuando que a ousadia da Jaguar cruzou uma linha invisível de “masculinidade aceitável”.
Para quem não sabe, a marca recebeu alguns comentários como “virou Avon”, “vai vender perfume”, “Essa estética de moda não tem nada a ver com o público”, e por aí vai.
Isso mostra como uma marca pode desafiar não só mercados, mas também ideias profundamente enraizadas sobre gênero. Parece que, para alguns, a ousadia da Jaguar foi longe demais.
As marcas como parte da cultura popular
Curiosamente, quem mais sentiu desconforto com o rebranding da Jaguar não foram necessariamente os consumidores da marca, mas os observadores externos. Isso revela algo fascinante: as marcas não vivem apenas no imaginário dos clientes e consumidores, mas também na cultura. Elas são símbolos, arquétipos, fazem parte de uma narrativa coletiva. Quando uma marca como a Jaguar muda, mexe com expectativas culturais – de masculinidade, tradição, status – que vão muito além dos carros que fabricam. E é justamente por isso que a mudança incomodou tanto. Mexer com símbolos é mexer com emoções.
Cadê meu arquétipo?
A teoria dos arquétipos de Jung, amplamente aplicada ao branding, sugere que marcas icônicas frequentemente habitam um espaço psicológico bem definido. A Jaguar, tradicionalmente, simboliza o herói ou a amante – a força masculina, a agressividade estilizada, a sedução imponente. Com a nova campanha “Copy Nothing”, muitos se perguntam: onde está meu herói? A ausência de um arquétipo claro gera ansiedade.
Queremos que a marca nos diga quem ela é, mas, por agora, o que recebemos é um teaser. E nós ficamos impacientes quando não recebemos explicações.
A arte da paciência (ou a falta dela)
Por fim, há uma questão de timing. A Jaguar não entregou tudo de uma vez – e, convenhamos, isso faz parte do lançamento. É preciso gerar curiosidade e incômodo. A campanha “Copy Nothing” será apresentada oficialmente no dia 2 de dezembro, durante a Miami Art Week . Ainda assim, muitos já estão julgando o livro pela capa. Perdemos a capacidade de lidar com processos graduais. Queremos respostas rápidas e definitivas, esquecendo que marcas – como histórias – precisam de tempo para se revelar.
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Presunção: a armadilha do “eu sei mais” sobre o rebranding da Jaguar
Um dos argumentos mais comuns entre os críticos do rebranding da Jaguar é que a marca “não sabe o que está fazendo”. Será mesmo? Estamos falando de uma empresa centenária, criada em 1922, com um legado no setor automotivo e recursos suficientes para contratar os melhores profissionais em estratégia de marca, design e comunicação do mundo.
Claro, grandes marcas também erram – basta olhar para o caso New Coke nos anos 80, que foi um fracasso épico da Coca-Cola. Mas presumir que não há um plano por trás de uma mudança tão disruptiva é, no mínimo, presunção nossa, enquanto profissionais de comunicação. Essa crítica diz mais sobre a confiança na própria opinião (especialistas das redes sociais) do que sobre o movimento estratégico da Jaguar.
O futuro está em construção
A verdade é que o rebranding da Jaguar ainda está no início de sua narrativa. Talvez funcione, talvez não. Mas o que ele já conseguiu é nos fazer pensar. Pensar sobre nossas expectativas, nossas contradições e nossa relação com marcas que são mais do que produtos.
Em tempos de mudança, cabe a nós decidir: seremos parte do público que quer observar, criticar e resistir? Ou tentaremos entender a história que está sendo contada, mesmo que ainda esteja no primeiro capítulo?
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