O Estúdio Letras participou, em Lisboa, de mais uma edição do programa IMPULSO IA, uma iniciativa da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, em parceria com o Google. O evento abordou um tema incontornável: como usar a Inteligência Artificial de forma ética, eficiente e acessível no dia a dia, seja no contexto profissional ou pessoal.
Durante a palestra, foram apresentadas diversas de ferramentas que demonstram o potencial da IA para automatizar tarefas, otimizar processos, criar conteúdos e até músicas personalizadas. Da organização de reuniões à produção de conteúdos visuais e de texto, passando por soluções que resumem documentos e vídeos e um “Google de IA” que indica a melhor ferramenta consoante o objetivo, ficou claro que as possibilidades da Inteligência Artificial são muitas e estão cada vez mais acessíveis e descomplicadas.
O programa IMPULSO IA quer democratizar o acesso à inteligência artificial e capacitar profissionais de diferentes setores para enfrentarem os desafios da era digital com mais confiança e criatividade. Gratuito e acessível, o programa conta com sessões presenciais e online com formadores experientes, como Sandra Fazenda, Diretora Executiva da APDC, que liderou o encontro em Lisboa e compartilhou ideias e soluções com a Inteligência Artificial que vão de casa ao trabalho:
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Read AI: para transformar reuniões em produtividade real
O Read AI é uma ferramenta pensada para quem participa de muitas reuniões e sente que o tempo nem sempre é bem aproveitado. Ele tem uma conexão direta com plataformas como Zoom, Microsoft Teams e Google Meet e, assim que a reunião termina, entrega um resumo automático com os principais tópicos discutidos, decisões tomadas e os próximos passos e responsáveis.
Diferenciais:
- Capacidade de identificar falas por participante;
- Resumos objetivos e bem estruturados;
- Insights gerados por IA que ajudam na tomada de decisões.
O Read AI é ótimo para trabalho remoto, gestão de projetos, reuniões de condomínio e para estudantes que fazem reuniões de grupo. Quem sabe pode até ajudar a organizar um evento, reuniões de família, entre tantas outras possibilidades.
There’s an AI for That: o “Google da Inteligência Artificial”
Esta plataforma é um verdadeiro catálogo de IAs. Basta acessar o site e escrever o que precisa. Por exemplo, “criar apresentações”, “gerar melodias”, “organizar e-mails” e o sistema mostra opções de IA para fazer exatamente o que foi pedido.
Diferenciais:
- Motor de busca especializado em ferramentas de IA;
- Atualizações constantes com novidades do setor;
- Filtros por tipo de tarefa, preço ou popularidade.
Este é um ótimo ponto de partida para quem quer experimentar a Inteligência Artificial mas não sabe por onde começar. Também é útil para profissionais que querem encontrar soluções específicas para os seus desafios diários. Inclusive, já foi usada e aprovada pelo Estúdio Letras.
NotebookLM: um assistente pessoal
O NotebookLM permite fazer upload de documentos (como PDFs, artigos, apresentações, links e vídeos) e interagir com o conteúdo como se fosse uma conversa com um assistente pessoal. É possível fazer perguntas, pedir resumos ou explicações à inteligência artificial e receber respostas baseadas no conteúdo enviado.
Diferenciais:
- Analisa conteúdo em vários formatos;
- Permite gerar perguntas e respostas sobre o material;
- Ideal para estudo autónomo e revisão de conteúdos densos.
Muito útil para estudantes, professores, pesquisadores ou profissionais que precisam processar e interpretar grandes volumes de informação rapidamente. E, vale reforçar, que não substitui a leitura na íntegra de documentos importantes, artigos científicos e interpretação de dados. Isso, só nós mesmos podemos fazer com maestria (e ainda bem!).
ChatGPT com plugins: muito mais do que um chatbot
O ChatGPT com plugins ativados transforma-se num verdadeiro canivete suíço digital. Com extensões como Link Reader, Browser e Diagrams, ele ganha novas capacidades: Lê páginas da internet em tempo real cria mapas mentais e fluxogramas, faz cálculos e analisa dados e gera visualizações com base em comandos simples.
Diferenciais:
- Personalizável com centenas de plugins;
- Integra-se a várias plataformas externas;
- É uma Inteligência Artificial com possibilidade de adaptação ao seu estilo de trabalho, escrita ou estudo.
Já bastante conhecido e utilizado por profissionais de diversas áreas, professores, estudantes, programadores, criadores de conteúdo, entre outros. Afinal, que ainda não se aventurou na plataforma, não é mesmo?
Suno AI: música original, criada sob medida
A Suno AI permite gerar músicas do zero apenas escrevendo o estilo musical e a letra ou tema. Pode pedir, por exemplo, “uma música pop alegre sobre determinado livro” e ela cria a melodia, letra e até uma voz cantada no idioma selecionado, tudo em poucos minutos e através da Inteligência Artificial.
Diferenciais:
- Geração automática de letra, melodia e voz;
- Vários estilos musicais disponíveis (pop, rock, fado, house, entre outros);
Uma plataforma excelente para trilhas sonoras personalizadas, DJs, cantores e intérpretes, educadores infantis, campanhas de marketing ou simplesmente para explorar a criatividade e experimentar novas possibilidades sem precisar de equipamento ou conhecimento técnico.
Estúdio Letras entrevista Sandra Fazenda
Sandra tem um papel central no ecossistema tecnológico português. À frente da APDC, coordena projetos como o UPskill e o EVOLVE Digital Transformation Summit, fomentando a inovação e a colaboração entre empresas, governo e academia.
A apresentação no IMPULSO IA em Lisboa foi marcada por uma abordagem prática da Inteligência Artificial que abordou desde os alertas para a necessidade de configurar as ferramentas com critérios éticos, até ao incentivo ao uso criativo e consciente destas. E um exemplo pessoal que chamou particularmente a atenção: um chatbot familiar, criado por Sandra com perguntas que “só a mãe sabe responder”.
Em entrevista à redação do Estúdio Letras, ela mostrou que a IA também pode ser uma aliada no ambiente doméstico e como o uso responsável começa dentro de casa:
1) Você tem treinado um chatbot para uso da sua família com perguntas que “só a mamãe sabe”. Achamos este um dos usos particulares mais criativos de uma IA. Como tem sido o uso doméstico-familiar de uma inteligência artificial?
A ideia surgiu da constatação de que há um conjunto de perguntas práticas e recorrentes em casa às quais, regra geral, só a mãe sabe responder.
Criar um chatbot com esse tipo de informação tem sido uma experiência interessante e até divertida. Para além de facilitar o dia a dia, funciona quase como um espelho: ao ‘delegar’ no chatbot estas respostas — que todos em casa deveriam saber — também estou a provocar reflexão. Muitas vezes, por comodismo ou preguiça, é mais fácil ligar para a mãe do que procurar ou lembrar. Por outro lado, tendo uma profissão ligada à tecnologia, sinto que também tenho a responsabilidade de mostrar à minha família, de forma prática e acessível, as potencialidades da IA no quotidiano.
Esta foi uma maneira simples de o fazer — e que gerou até mais curiosidade e diálogo sobre o tema.
2) Sabemos que a Inteligência Artificial pode ajudar (e muito) com a produtividade. Ainda assim, é importante tomarmos alguns cuidados para permanecermos sempre criativos e curiosos, como você comentou ser por natureza. Como equilibrar a necessidade de produzir cada vez mais e melhor que o mercado nos impõe com o uso saudável das IAs?
Acredito que o maior valor da IA está na sua utilização consciente. Pode, sem dúvida, aumentar a produtividade, mas deve ser usada sobretudo para libertar tempo para aquilo que é verdadeiramente humano: pensar, criar, imaginar.
O desafio está em manter a curiosidade e o pensamento crítico, usando a tecnologia como uma aliada — não para substituir, mas para potenciar o nosso contributo único.
A conversa com Sandra Fazenda reforça uma ideia-chave do IMPULSO IA: a tecnologia é uma ferramenta, não um fim. Saber utilizá-la de forma estratégica, sem abrir mão da autonomia, da ética e da criatividade, é o verdadeiro diferencial nesta nova era digital.
Mais do que ensinar a usar ferramentas, a ideia deste artigo é uma provocação: criar com Inteligência Artificial, sim — mas nunca deixar de pensar.
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